Defesa do mestrado “GÊNERO DA CIDADE EM DISPUTA: práticas artísticas como manifestação do dissenso”

Eu sou uma artista. Eu sou uma mulher. Eu sou uma esposa. Eu sou uma mãe. (Ordem aleatória). Eu faço um monte de lavagem, limpeza, cozinho, renovo, preservo, etc. Também, até agora, separadamente, eu “faço” arte. Agora, eu vou simplesmente fazer essas tarefas de manutenção diárias e trazê-las à consciência, exibindo-as como arte […] MEU TRABALHO SERÁ O TRABALHO. (Mierle UKELES, 1969)*

Segunda-feira próxima, dia 6 de maio de 2018 as 9h00, acontecerá a defesa da dissertação de mestrado “GÊNERO DA CIDADE EM DISPUTA: práticas artísticas como manifestação do dissenso”, de Carolina Gallo Garcia, pelo Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PROPUR-UFRGS).

A partir da obra de uma série de artistas feministas – em especial 4 mulheres que realizam intervenções na cidade e “que configuram casos representativos ao imaginarem novas formas de produzir espaço público”:  a) Mierle Ukeles (EUA, 1939), que questiona os papéis de gênero e a divisão sexual do trabalho a partir da transposição das atividades domésticas para o âmbito do espaço público; b) Adrian Piper (EUA, 1948), que realiza performances urbanas que questionam papéis de gênero e raça, a partir de sua própria inserção nesses papéis; c) Valie Export (Áustria, 1940), que evidencia as relações de gênero na configuração e nas escalas de desenho da cidade por meio de intervenções entre seu corpo e estruturas arquitetônico-urbanas, e que também realiza outras performances que debatem as relações de poder entre os gêneros como, por exemplo, uma intervenção na qual passeia com seu marido na coleira como um cachorro pelas ruas de Viena; d) Sophie Calle (França, 1953), que realiza deambulações, incursões e perseguições urbanas, que se relacionam com uma espécie de flânerie e voyerismo de atualização feminista –  a dissertação tensiona ideais relacionados a noção de espaço público e sua suposta constituição democrática, quando, na verdade, se constitui a partir de hierarquias de gênero, raça, entre outras.

* No original: “I am an artist. I am a woman. I am a wife. I am a mother. (Random order). I do a hell of a lot of washing, cleaning, cooking, renewing, supporting, preserving, etc. Also, up to now separately I “do” Art. Now, I will simply do these maintenance everyday things, and flush them up to consciousness, exhibit them, as Art. . . . MY WORKING WILL BE THE WORK”. (tradução da autora, In: GARCIA, 2018, p. 98).

RESUMO:
Este trabalho parte de uma reflexão acerca da noção de espaço público a fim de debater, em dois níveis, tal conceito. Em uma primeira problematização, buscaremos evidenciar a dimensão de gênero presente na acepção dominante de espaço público ao questionar os parâmetros históricos de constituição da dicotomia público-privada como uma tecnologia de produção de espaços generificados tradicionalmente cindida entre homens-públicos e mulheres-privadas. A discussão sobre a instauração destas esferas separadas é tratada à luz da história, geografia e teoria feminista, bem como dos recentes estudos que associam as teorias de gênero a reflexões do campo da arquitetura e urbanismo. Em um segundo nível de argumentação, buscaremos vislumbrar de que maneira um modelo agonístico de democracia, preconizado por Chantal Mouffe (2013) pode ser posto em marcha a partir de práticas artísticas críticas que evidenciam o caráter sempre dissensual e disputado do espaço público. Ao considerá-lo enquanto lócus de disputas, a arte crítica (MOUFFE, 2013; RANCIÈRE, 2012) produzida em espaços urbanos por artistas feministas desponta como possibilidade de produção de dissensos (RANCIÈRE, 1996) que tornam visíveis os limites da noção hegemônica e consensual pressuposta nos termos de espaço público. A partir de imagens produzidas em performances realizadas em diferentes espaços públicos, apresentamos quatro montagens de imagens de quatro artistas visuais como modo de tramar relações visuais e teóricas que emergem da contestação pública destas ações. As montagens são analisadas à luz dos conceitos de práticas artísticas agonísticas (MOUFFE, 2013), dissenso (RANCIÈRE, 1996) e partilha do sensível (RANCIÈRE, 2009).
Palavras-chave: Espaço Público; Gênero; Performance; Imagem, Dissenso.

Segunda-feira, 06 de maio de 2018, às 9h00.
Sala de videoconferência do Anexo da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS.
Av. João Pessoa, 52 – Prédio Anexo. Porto Alegre – RS.

 

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